JOGOS | ANÁLISE

Review | The Last of Us Parte 2

Blues da vingança

Vitor Fumagalli07 de abr. de 2021Atualizado em 07 de abr. de 2021

Dia 19 de junho foi lançado a sequência do aclamado The Last of Us, a Parte 2 dessa grande narrativa da Naughty Dog, após adiamentos e problemas com vazamentos acerca da história, o jogo foi finalmente liberado para o mundo. Os resultados? No metacritic, com os críticos, 10/10 em todos os cantos, pelo lado de reviews de usuários, 3.6 (no momento que esta análise foi escrita), mas o que diabos desencadeou isso? Infelizmente, não posso comentar muito acerca disso por questões de SPOILERS, então citarei apenas o básico.

Diferente de outras análises, não começarei pela narrativa, citarei outros pontos até que chegue a hora, será que The Last of Us 2 é um dos, se não, o melhor jogo da geração, um jogo injustiçado, ou outra coisa? Como se comporta como a sequência de um dos jogos mais amados da geração passada? Espero que gostem, sejam bem-vindos a minha humilde análise de The Last of Us 2.

A beleza natural, huh?

Vou ser direto aqui, The Last of Us 2 é um dos, se não, o jogo mais bonito da geração, no primeiro game, a natureza parecia estar retomando tudo com a queda da civilização, na Parte 2 parece estar tudo tomado, prédios e mais prédios cheios de vegetação. Construções enormes abandonadas que um sentimento de curiosidade, um ar de mistério, imagine como andar pelas Terras Proibidas de Shadow of the Colossus imaginando o que houve naquele lugar, a direção de arte merece uma premiação no Game Awards. Florestas fechadas, cidades destruídas, assentamentos de sobreviventes, a variedade é grande, riqueza dos detalhes é inquestionável e deve ser referência para o mundo dos jogos.

Paralelamente à história principal, temos mini histórias contadas por anotações, diários e outras coisas que podem ser encontradas no cenário, exemplo: uma pessoa foi infectada e escreveu que iria para um certo lugar, se você foi, a encontrará lá, como um monstro ou como um cadáver. O cenário em si conta várias histórias que podem ser apreciadas aos poucos ou simplesmente ignoradas, cabe ao jogador decidir explorar.

Como já dito, a parte técnica do jogo é IMPECÁVEL, a diferença de cutscenes para o gameplay é quase nula, parece como um filme de alta produção, a direção de arte realmente está de parabéns e eu não consigo dizer isso o suficiente. Outra coisa de grande mérito do jogo são suas expressões faciais, mesmo no gameplay, se você olhar para o rosto dos personagens, você poderá ver várias e várias reações aos momentos da história, conversas ou simplesmente de estar em certos lugares.

Além disso, o que seriam todos esses momentos sem a trilha sonora de Gustavo Santaolalla? Com músicas novas e outras que remetem ao primeiro jogo, a direção de som também está de parabéns pelo trabalho incrível com o audio design, os estaladores fazem sons amedrontadores, o barulho das armas, do cenário, tudo executado com extrema maestria.

As dificuldades de sobreviver

A parte gráfica recebeu incríveis melhorias, e o gameplay? Algumas, mas antes, vamos falar do básico, The Last of Us 1 e 2 são jogos com elementos de sobrevivência, a coleta e a gestão de recursos são de extrema importância para conseguir aguentar os desafios, sejam inimigos humanos ou infectados, que infelizmente são mais do mesmo com algumas adições, mas as táticas para lidar com eles são as mesmas. Um detalhe legal são as conversas de facções inimigas, cada indivíduo possui um nome e sua personalidade, algo que é muito legal e dá uma naturalidade para as conversas entre eles, o problema é que já encontrei inimigos gêmeos, digo, com modelos iguais, mas com nomes diferentes, quebrando um pouco da imersão; isso foi um dos grandes pontos de propaganda do jogo, não é perfeito, mas pode ser muito explorado futuramente!

Ainda sobre inimigos, uma das adições foram cachorros, que podem farejar o jogador, revelando sua posição para patrulhas inimigas, apenas jogue um tijolo ou garrafa para atrair a atenção deles que você se safa com relativa facilidade. Os infectados são a mesma coisa quase, apenas os espreitadores tentam flanquear você e te pegar despreparado, outros apenas partem para cima de você, os estaladores estão mais espertos, eles escutam melhor caso você não tenha cautela na hora de andar abaixado ou fazer barulho, então cuidado! Na questão de humanos, bem… em certos casos eles são bem espertos, flanqueiam e coordenam táticas, algo bem legal, em outros eles simplesmente correm para cima de você sem raciocínio algum apenas para tomarem um tiro de escopeta na boca. Dica: preste atenção por onde andam, eles ficam nos mesmos lugares.

A movimentação e os golpes estão mais fluídos, e claro, mais brutais, o combate corpo a corpo não foi muito melhorado, em certos casos eu estava batendo no inimigo e ele desviava para o lado, eu tornava o analógico na direção dele, mas por causa da câmera estar em outra, Ellie batia no vento, o que frustrava um pouco, mas foi questão de costume. O tiroteio está quase que a mesma coisa, lembrando que em certos casos é impreciso por decisão dos desenvolvedores, quando você toma um tiro ou é jogado no chão, você pode mirar de volta com maior precisão; como dito agora, Ellie pode deitar e se esgueirar pelo cenário para encontrar mais oportunidades para passar totalmente stealth, ou matar todos, a escolha é sua.

O sistema de crafting é bem parecido com o do primeiro, pegue recursos específicos para fabricar kits médicos, munições especiais, flechas dentre outros, também é possível encontrar pílulas para adquirir habilidades especiais para o personagem que melhoram seu desempenho em mira, sobrevivência, stealth e outros. Peças podem ser coletadas para melhorar suas armas, como em dano, precisão, velocidade de recarga, para isso, você precisa encontrar uma bancada para fazer as desejadas melhorias. Com tudo isso em mente, não posso deixar de citar uma grande parte do jogo que creio que fãs e novatos irão gostas: a exploração, além de muito recompensadora em recursos, você explorar locais que pareciam impossíveis de acessar, encontrando segredos e até mesmo mais histórias para enriquecer o mundo.

A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena

The Last of Us Parte 2 foca no ódio, um sentimento profundo do ser humano, a história gira em torno de Ellie, que, após um acontecimento traumático em sua vida, parte para Seattle em busca de vingança. O jogo troca de perspectivas em vários momentos, alguns sendo flashbacks, outros no presente. E é aqui que o bicho pegou entre os críticos e usuários, alguns dizem ser brilhante, outros dizem ser um lixo total, eu discordo de ambas essas visões.

Não posso entrar em detalhes sem spoilers, então simplificarei, essa história de vingança não é especial, em The Last of Us 1, a jornada era de Joel e Ellie e você sentia que eles e apenas eles poderiam viver aquela aventura, aqui, qualquer um poderia assumir o papel que não mudaria muito para ser sincero. Na questão dos flashbacks, eles são mais interessantes que quase toda a história no presente e em quase todos os casos, incríveis, as melhores partes do jogo, onde apresentam uma possibilidade incrível de história que, possivelmente, não teremos.

Os personagens também sofreram um pouco, as interpretações estão impecáveis, fato, mas a direção não foi das melhores, certas personagens fazem coisas que não fariam no primeiro jogo, Parte 2 tenta desconstruir as coisas para deixá-las no caminho que a narrativa precisa, além de muita conveniência de Plot, no primeiro, personagens moviam a história, no segundo jogo, a trama move os personagens para um desenvolvimento nem um pouco satisfatório, personagens não aprendem e seguem uma única mentalidade até o fim. Além disso, os personagens novos não são tão interessantes como os do primeiro jogo, não tiveram o desenvolvimento suficiente para serem amados ou odiados, no final do dia, são ok. As reclamações dos usuários tocam exatamente nessas partes da história, a ideia num geral não é ruim, mas foi contada na ordem errada.

Paisagens e sentimentos 

Para finalizar a análise, gostaria de dizer você pode não gostar da história, do gameplay, mas há coisas que não podem ser negadas sobre o jogo, como sua incrível capacidade de imersão num mundo pós-apocalíptico. O sentimento de observar os cenários e paisagens era inexplicável, a curiosidade de explorar cada canto aumentava, mas com o decorrer da história, a vontade foi se esvaindo, talvez pela direção da história ou por uma alternativa que nunca teremos como demonstrada nos flashbacks. The Last of Us 1 ganhou muitos fãs pela relação entre Joel e Ellie, não por críticas positivas ou negativas, por aclamação ou review bombings, apenas por uma relação de amizade entre os dois e o desenvolvimento dela, algo que The Last of Us Parte 2 aproveitou bem pouco.

O jogo não possui multiplayer como o primeiro, nem tantos colecionáveis, então após a primeira zerada, não há muito a não ser o New Game+. Num geral, o jogo não é ruim, longe disso, é muito bem feito em diversos aspectos, mas em sua tentativa de ser extremamente brutal, focado no ódio e no tema de vingança acima dos outros, outro temática teria sido mais interessante para se abordar no mundo pós-apocalíptico.

The Last of Us Parte 2

Lançamento:19.06.2020

Publicadora:Sony Interactive Entertainment

Desenvolvedora:Naughty Dog

Gênero:Ação-aventura

Plataforma:PlayStation 4

Nota do avaliador:

Excelente