Distribuído originalmente pela BBC, seu primeiro episódio foi ao ar em 12 de dezembro de 2013 e de lá para cá já foram cinco temporadas num todo de 30 episódios, que aliás estão disponíveis na Netflix. Apesar de juntar várias características que a fazem uma grande série, das quais iremos dissecar aqui, infelizmente a criação de Steven Knight fez e faz menos barulho do que merecia. Desta forma mostraremos o por quê Peaky Blinders merece sua atenção.
Os Peaky Blinders
A primeira coisa que se precisa para contar uma boa história é, impreterivelmente, ter um bom roteiro em mãos. E Peaky Blinders, além de trazer uma ótima história, traz um enredo extremamente inteligente.
A começar pela base histórica e a própria riqueza colocada na família do protagonista: os Shelby. A princípio eles são uma gangue em Birmingham, Inglaterra, que sobrevive do gerenciamento de apostas ilegais de corrida de cavalos, transporte de cargas, alguns pubs e lutas clandestinas por volta do ano de 1919. Com a volta de Thomas Shelby da primeira Grande Guerra, ele eleva suas ambições a respeito de sua organização, com o objetivo de faze-la grandiosas. E é exatamente desse ponto que a primeira temporada começa.
O como Tommy faz para erguer seu império é quando a parte inteligente do roteiro começa a ser explorada. É evidente que os Peaky Blinders possuem bem menos influência e recursos materiais que as demais organização, o que força Thomas a fechar acordos e criar conspirações de grande precisão para derrotar seus inimigos. Vale lembrar também que não só os Blinders, como outras gangues que aparecem realmente existiram, como alguns personagens como Oswald Mosley e o próprio Winston Churchill.
Thomas Shelby
Tommy, estrelado por Cillian Murphy, carrega o protagonismo de forma brilhante. Misterioso, inteligente e perigoso, ele foi radicalmente transformado pela Guerra e, em sua volta à Birmingham, anseia poder.
Seus métodos são uma aula pura sobre Maquiavel; ele é frio, oportuno, convicto e possui uma classe e calma de tirar chapéu. Não bastasse isso, ele é incrivelmente meticuloso, estuda cada um de seus aliados e inimigos, estando sempre um passo à frente de qualquer um.
Todas essas características também o fazem um grande manipulador de pessoas, em certos momentos com membros de sua própria família. Thomas não revela seus planos para ninguém, salvo, algumas poucas vezes para Polly (Helen McCrory), sua tia e líder quando em sua ausência.
Conforme vão passando as temporadas e cada vez mais Tommy é levado a superar seus limites, uma evolução progressiva de Shelby, principalmente do lado emocional, começa a ser trabalhada. O mais positivo é que isso não se limita só ao protagonista, em menor escala todos os membros da família passam por essa metamorfose gradativa.
Personagens
Um dos pontos mais fortes da série é a qualidade dos personagem e suas interpretações. Nenhum personagem das 5 cinco temporadas é desinteressante. Cada um deles recebe seus núcleos, obviamente que menores em comparação ao protagonista, mas eles não são desestimulantes.
O irmão de Thomas, Arthur Shelby (Paul Anderson) por exemplo, possui uma carga dramática muito forte ao decorrer das temporadas, que vai influenciar diretamente sua relação com o irmão e demais membros da família.
Outro ponto positivo são as mulheres. Na maioria das vezes elas são representadas como fortes e independentes, e como no caso de Polly, até mesmo imponente. Claro que existe o peso em que a série se passa, início do século XX, em que os homens se viam, em sua grande maioria, superior ao sexo oposto, porém, no que diz respeito as mulheres da família Shelby, elas estão muito bem representadas.
O Amadurecimento das Circunstâncias
Conforme se avança nas temporadas as circunstancias envolta de Tommy se tornam cada vez mais “importantes”. O que era uma briga entre apostas de corrida de cavalos viram brigas entre organizações criminosas, que viram missões pela coroa britânica, que viram embates políticos e assim por diante. O curso traçado pelos Shelby passa a não ter mais limites, e as ambições de Thomas passam a não ser somente mais “poder pelo poder”.
O contexto histórico a cada temporada também fica mais presente, são explorado os traumas do pós-guerra, sindicatos da época, a exploração do trabalho, a popularização da cocaína, a guerra civil na Rússia e o crescimento do comunismo, a ascensão do Nazismo, a quebra da bolsa em 1929 e até mesmo a Lei Seca nos EUA.
Outro fator importante é como cada vez mais cada um tem algo a perder nesse jogo. A família inevitavelmente cresce, e ao mesmo tempo que isso fornece forças, também se torna um fator que traz medo e hesitação. Não só isso como também elos fracos vão se formando dentre eles, o que torna tudo mais duvidoso e menos se sabe onde está pisando.
De tudo, O fim
De maneira geral, Peaky Blinders é uma aula de como manter um alto nível de entretenimento em cinco temporadas consecutivas sem perder “o fio da meada”. Caso você esteja com um tempo livre, ou procurando uma boa pedida de série, essa é uma delas que garante ótimas surpresas.