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Palestina | Uma HQ para os dias de hoje

Publicada na década de 1990, Palestina ainda se faz atual para entender conflito entre Palestina e Israel

Geraldo Campos 12 de out. de 2023Atualizado em 12 de out. de 2023

Por dois meses e meio, entre os anos de 1991 e 1992, um jornalista nascido em Malta, chamado Joe Sacco, resolveu meter o bedelho no conflito entre Israel e Palestina. O objetivo era, a partir da experiência vivida e materiais coletados, escrever um História em Quadrinhos jornalística. Assim, de 1993 a 1995, era publicado, nos EUA, Palestina - um marco para o gênero jornalísticos em HQs.

Segundo Joe, depois de publicar a HQ na íntegra, uma pergunta recorrente que lhe faziam era “por quê?”, a qual ele respondia: “Fui ao Território Ocupado (na Palestina por Israel) porque senti que era esta a minha obrigação. Quer dizer, quando comecei a compreender a opressão a que eram sujeitos os palestinos, fui tomado de uma quase biológica necessidade de agir”, escreveu em 2007.

É meio frustrante, realmente, depois de concluir a leitura, saber que os relatos de Joe ainda são extremamente atuais. Bom, independentemente da interpretação que você, caro leitor, sobre a guerra Israel-Palestina, vale se despedir de ‘pré-conceitos’, sejam eles quais forem, e dar uma chance para uma obra que parte de fatos para compor uma narrativa densa, intensa e surreal de tão real que é. “Minha intenção na obra não é ser objetivo, mas honesto”, constatou Joe.

De fato, leitores de jornais irão estranhar o formato HQ, ao mesmo tempo que leitores de HQs irão estranhar o forte peso jornalístico. Ao mesmo tempo que Joe reporta os acontecimentos, ele é sujeito da mesma história, que é contada em primeira pessoa, em que os desenhos suscitam os dramas, os sentimentos e os temores. Por outro lado, o texto é mais carregado do que nas histórias mainstream. 

Joe, de certa forma, escreve com as vísceras de um jornalista muito consciente do que faz. Reportar fatos, é também reportar os medos, as agonias, as esperanças e amores. Enfim, bem como Maus, é isso o que Palestina faz. Talvez, para temas tão sensíveis, os textos frios vindouros das redações de jornais, não sejam capazes de contemplar a inteira verdade dos fatos como a linguagem da sétima arte o faz.

Ao longo da narrativa do jornalista, ele conhece diversos personagens, com quem colhe depoimentos e vive momentos de angústia. Joe consegue mostrar as engrenagens da opressão vivida pelos palestinos, desde suas manifestações mais esdrúxulas e vulgares, até as mais silenciosas. 

Mais tarde, no começo dos anos 2000, Joe retornou à Palestina e escreve Notas Sobre Gaza. Em ambas as histórias, o jornalista, além de se engendrar à ‘notícia’, retorna as origens do conflito que já perdura por mais de 70 anos, remontando a história sobre uma perspectiva própria e ancorada nas coisas como elas são. Em última instância, Joe fala sobre humanidade, e a pergunta do “por quê?”, devem ser voltadas para outras pessoas. 

Enfim, no momento, Palestina, publicado lindamente no Brasil pela Conrad, está um pouco difícil de ser encontrado no mercado, mas Notas Sobre Gaza, publicado pela Cia. das Letras, segue disponível. Ótima leitura!