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Análise | Eternos

Filosófico e refinado, mas não livre de falhas

Geraldo Campos07 de nov. de 2021Atualizado em 07 de nov. de 2021

"Eternos" assume para si um peso muito importante para a quarta fase da Marvel. Essa fase, que trará elementos e conceitos mais cósmicos para o MCU, apoiasse agora no que foi criado em 1976 pelo (também "eterno") Jack Kirby, que recebe agora, das HQs aos cinemas, a direção de Chloé Zhao pela Disney.

Roteiro

Eternos caminha dos obscuros mistérios do início da vida, até o atual status quo do MCU. No início da vida na Terra, uma raça de seres divinos, com nome autoexplicativo, chamados Celestiais, enviam dez "anjos" (Os Eternos) para que protejam a humanidade de seres diabólicos, que surgem das profundezas, denominados esses de Deviantes.

Os Eternos ajudam não só a humanidade a se proteger dos Deviantes, bem como no desenvolvimento de novas tecnologias, mas não podem, jamais, interferir em conflitos que não tenham causa os Deviantes, como o próprio exemplo que o filme apresenta do massacre em Tenochtitlán, capital Asteca dizimada pelos Espanhóis.

Impõe-se nesse contexto uma das características mais virtuosas do longa: suas reflexões filosóficas (quase teológicas) e o peso dramático da obra. O embate conflitante no grupo entre intervir ou não na humanidade, tendo em vista seus poderes "divinos", é o primeiro fio condutor dessa reflexão. No segundo momento entra em cena esse peso dramático de não poder intervir e, ao mesmo tempo, tomar as dores das vítimas, sabendo que se poderia impedir uma tragédia e não se o fez por convicção de cunho transcendental e metafísico.

Marvel/Eternos/Divulgação

Faz-se, então, o motor que gira "Eternos", a instância de real conflito: a fé.

Existe esse diálogo, que é a grande dúvida final dos "heróis" que seria: Salvar as bilhões de vida agora, ou sacrificar as mesmas em prol de outros possíveis futuros trilhões? A resposta que o filme entrega, que os Eternos, em sua maioria, entrega, é uma resposta nietzschiana.

Que fique claro: Eternos, independentemente de qualquer coisa, é um filme de muitas camadas.

Os Eternos

O Eternos são aqueles protetores da humanidade contra os Deviantes, desses, sua maioria possui um gigantesco ímpeto de empatia e cativa, de fato, o espectador. Porém, dois dos quais recebem uma boa parcela da atenção e conduzem um romance, são fracos; neste caso Ikaris e Sersi.

Desde o começo o romance deles é plastificado, pouco natural, existem poucos diálogos que revelam a essência do amor deles, ou gestos que denotam esse sentimento.

Em contra partida, todos os demais personagens são, imprescindivelmente, cativantes, empáticos e singulares. Druig e Makkari possuem uma química muito diferenciada e que chama atenção, bem como Thena e Gilgamesh, que esses sim entregam esses gestos sentimentais.

A resolução final em certo sentido é pouco condizente com o que se havia, até naquele instante, desenvolvido de Ikaris e Duende. Uma resolução que, olhando de certa perspectiva, pode parecer pouco corajosa e inconstante com o núcleo de cada um dos dois personagens.

Marvel/Eternos/Divulgação

Isso não tira o fato de que Duende possui um dos dilemas mais interessantes do filme, e que Chloé Pontua logo de começo, mas só revela sua verdadeira natureza ao final.

Algo intrigante do filme é seu antagonista. Os Deviantes, e claro que existe um líder entre eles, não é de fato o antagonista de "A" maiúsculo. Ele funciona como ameaça imediata, mas nunca como o ser de real investigação dos Eternos, neste caso é injusto comparar a inutilidade de Malekiith de Thor: O Mundo Sombrio com os Deviantes.

O início de Uma Nova Marvel

Eternos é o filme que mais foge da fórmula Marvel e cria algo com maior identidade do diretor. Existe a marca bem presente da fórmula, nas vezes em que o filme para e conta uma piada ou coloca algum personagem, nesse caso o Kingo, como alívio cômico constante. Aqui, isso é um pouco mais suave, e no geral as piadas são boas.

É o filme que também apresenta uma maior diversidade e representatividade social e sem ter de ficar levantando bandeira ou fazendo discursos; ele simplesmente se apresenta como é, e isso basta.

Entretanto e, contraditoriamente, o próprio alívio cômico pode ser entendido como uma ridicularizarão de Bollywood, e ofender, mesmo que de forma não premeditada, uma camada distante da do ocidente.

Outros aspectos do filme são bem bonitos. A fotografia é linda, o uniforme dos Eternos é rico em detalhes e interessante, o visual dos Celestiais é uma mistura de grandioso com assustador. Sua única falha mais estética é em relação ao CGI dos Deviantes, primeiro que a maioria dos embates estão em locais de pouca luz, e que além de tudo, possuem um visual genérico e na qual todos se assemelham muito em sua substância, quando na verdade deveriam ser diferentes um dos outros, bem como é descrito nas HQs.

Consideração Finais

Eternos possui características que o afasta da grande maioria dos filmes da Marvel. Suas reflexões e drama são muito bem vindas ao MCU e devem ser reutilizadas em outras temáticas para outros longas, entretanto, isso não desfaz as falhas do filme em desenvolver personagens dados como centrais de maneira ineficiente, e um final que poderia ser mais coerente e trabalhado com o que se tinha até então. Eternos surpreende em muitos aspectos, mas é devedor em outros.

Eternos

Ano:2021

Empresa:Disney

Gênero:Super-herói, ação/aventura, ficção científica

Direção:Chloé Zhao

País de Origem:Estados Unidos

Duração:157min

Nota do avaliador:

Bom