'The Batman', um dos filmes mais esperados de 2022 produzido pela Warner/DC traz, depois de 10 anos de hiato, um longa solo do Batman para os cinemas. Tendo a direção de Matt Reeves (Planetas dos Macacos: A Guerra) e estrelando Robert Pattinson (Batman), Zoe Kravitz (Mulher-Gato) e Paul Dano (Charada), o diretor se inspira em várias HQs do universo do Morcego para desenvolver um dos heróis mais icônicos da cultura Geek.

Roteiro

Reeves introduz um Batman em seu segundo ano de carreira. A criminalidade em Gotham está numa crescente e, apesar de o vigilante mascarado causar medo nos criminosos, eles não passam de peixe pequeno num sistema de corrupção generalizada. Eis que surge o Charada, expondo a podridão de figuras ilustres da cidade e fazendo vítimas, inocentes ou não, por onde passa. Assim, Batman inicia uma investigação tanto para descobrir quem é o Charada e quais seus planos, bem como para entender melhor todas as camadas do crime organizado e da mafia.

É apresentado um Batman mais imaturo, frágil, que se deixa levar muitas vezes por suas emoções e que não evita o conflito direto, quase como se buscasse a morte. Ele deixa passar pistas, se desconcentra e ainda precisa se descobrir como herói. É um arco de redenção, isso é claro. Redenção da morte de seus pais e identificação de si, entregue de maneira brilhante por Pattinson e pensado sensatamente pelo roteiro.

Aliás, foi uma escolha sabia não reprisar toda uma cena de novo da morte de Thomas e Martha. Mas a forma como Reeves trabalha esse trauma, é de uma sensibilidade tamanha, é de se chamar Cinema.

O que volta a existir para Bruce é seu código moral de não matar, que se havia perdido na versão de Affleck. Essa sua disposição o coloca em conflito ideológico até mesmo com Selina Kyle. Entretanto, Batman vai perceber que, na realidade, nem mesmo seu código moral é suficiente para se chegar ao entendimento de herói, que só existira ao final do filme.

É ponto pacífico que toda história conta duas histórias. Uma que tange na superfície e outra mais essencial, mais elusiva aos olhos pouco atentos. Esse, que se esgueira nas sombras do mero entretenimento, se revela de tal forma nos instantes finais que encanta, emociona e nos faz lembrar que cinema é arte.

Uma pena que o filme se obriga a dizer com palavras, logo depois que essa segunda história se revela, os porquês disso ou daquilo outro para que todos entendam.

Logo no começo do filme Batman salva uma pessoa de um grupo de arruaceiros, ao final, ele também está salvando pessoas mas, levando em consideração o desenvolvimento de personagem, o peso de cada salvamento muda, não somente pelas circunstâncias, mas também porque as motivações de Bruce se enobrecem. Batman, nesse seu arco de redenção, deixa de ser um vigilante mascarado para se tornar um herói.

O Universo Se Molda

The Batman começa a arquitetar aquele universo de Gotham ao qual o fã já é mais familiarizado. É trabalhado a confiança do DPGC em relação ao Batman, sobretudo a do Gordon e, concomitantemente, tanto Bruce quanto Gordon descobrem o quanto o departamento precisa ser livrado dos policiais corruptos.

Em paralelo é apresentada Selina Kyle, a Mulher-Gato. A química entre Batman e Mulher-Gato é instantânea, e as diferença entre a maneira de pensar de ambos, suas origens e objetivos, geram contrastes muito interessantes. Zoe está ótima no papel, e fica um sabor na boca para ver mais cenas de ação dela e mais diálogos entre os dois. Outro personagem, que possui um pouco menos tempo de tela mas trava um dos melhores diálogo é o Alfred (Andy Serkis).

Kyle tem seu arco inicial resgatados de elementos de Batman Ano Um, de Frank Miller, que são apresentados de forma sutil porém muito eficaz. É a personagem que mais humaniza Bruce, que trazem para seus transtornos e mágoas um sentido que os transcende.

Não só as cenas de luta de Kyle são ótimas, como todas são muito bem dirigidas e dinâmicas. Elas possuem um peso bem impactante, é possível sentir a força de cada golpe que o morcego desfere em seus oponentes, acompanhado de uma direção de fotografia impecável.

O Charada, em contra partida à força bruta, testa todas as qualidades detetivescas de Batman. Qualidades essas que são turvadas pela imaturidade e raiva de Bruce. Ele trava com Batman um duelo de discursos que apontam o dedo para muitas verdades sobre o herói, e que, por fim, o próprio Batman aceita essas verdades, ajudando a concluir seu arco de redenção

Basicamente Nygma manipula toda a cidade, num desfecho baseado em Batman Ano Zero de Scott Snyder (na verdade, muito parece ser baseado nos conceitos que Scott Snyder trabalhou nas HQs). Além de Ano Zero e Ano Um, outras inspirações como Batman Ego (Darwyn Cooke), O Longo Dia Das Bruxas e Vitória Sombria (Jeph Loeb) se fazem muito presentes.

Charada é o vilão que esse Batman precisava para abrir seus olhos para aquilo que ele se negava a enxergar sobre as origens de sua família e da própria Gotham. Permitindo que ele enfrente ameaças com o Falcone e, que fica ao final pairando como o herdeiro do poder do crime, o Pinguim.

Pinguim que permite a existência de uma ótima cena de ação de perseguição de carro. O Bat-móvel está lindo e remete à modelos mais antigos.

Batman ainda não tem todo aquele aparato tecnológico inesgotável, e ainda não aprendeu a conciliar totalmente seus deveres das Empresas Wayne com sua vida de vigilantes. Na realidade, Batman ainda não aprendeu a usar sua mascara de Bruce Wayne, ele é Batman em 100% do filme.

Considerações Finais

The Batman é um grande filme. Original, inteligente, e que sabe se utilizar muito bem da linguagem do cinema, com uma narrativa muito madura e que se distância fortemente daquilo que o público pode estar acostumado dos filmes de heróis. Reeves sabe muito bem o que quer fazer com este grande personagem, e se inspira na nata dos quadrinhos para tal, sem perder a liberdade de acrescentar novos elementos e discursos que mantém o imaginário deste ícone vivo no sonho dos fãs.