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Análise | Gideon Falls

Jeff Lemire e Andrea Sorrentino se consagram em Gideon Falls como uma das maiores duplas criativas da última década

Geraldo Campos 08 de jun. de 2021Atualizado em 08 de jun. de 2021

Iniciada sua publicação pela Editora Image nos Estados Unidos em 2018, chega ao fim a série de terror em quadrinhos Gideon Falls, escrito por Jeff Lemire (Sweet Tooth, Condado de Essex) e desenhado por Andrea Sorrentino (Velho Logan, Arqueiro Verde). No Brasil a série foi publicada em seis encadernados de luxo pela Editora Mino, contando com alguns extras e todas as 27 edições.

Roteiro

A HQ se passa na cidade de Gideon Falls e apresenta inicialmente o personagem Norton, um rapaz que diz não ter pai e mãe, e que passa rotineiramente com sua psicóloga, a Doutora Xu. Norton possui um bizarro complexo de revirar os lixos da cidade procurando partes de madeiras e pregos de algo que ele acredita ser uma antiga construção, que logo descobre se tratar do Celeiro Negro.

Em paralelo é apresentado o Padre Wilfred, que possui um passado obscuro, que chega à sua nova paróquia, visto que o então padre teria desaparecido misteriosamente. Conforme a história passa o corpo do outro padre é encontrado, mas com evidencias de que ele havia acabado de morrer, iniciando uma investigação encabeçada pela Xerife da cidade. Conforme esses eventos ocorrem, Wilfred tem uma visão do Celeiro Negro, bem como Norton e a Dra. Xu acabam tendo.

Gideon Falls

Gideon Falls é uma história repleta de mistério, reviravoltas e uma boa dose de ação. Os quadros fluem de maneira mais rápida quanto mais o leitor vai sendo cativado pelos personagens e pelos mistérios do roteiro. E vale ressaltar o poder de cada personagem em conquistar a empatia do leitor. Quase todos eles, para não dizer todos, são extremamente carismáticos e possuem um passado bem desenvolvido, apresentando seus traumas e motivações.

Em muitos aspectos o enredo lembra a série Dark, em sua maneira de desenvolver conceitos de multiverso e viagem no tempo, mas mantém peculiaridades de sua própria criação, o que enriquece a obra. Existe, do início ao fim, um sentimento muito presente de urgência e pressa, e de que uma catástrofe de escalas inimagináveis estaria ao encalço dos personagens. Essas sensações não são ditas aos berros pela HQ, ela se dá de forma orgânica através da dinâmica de quadros, arte e fluidez de leitura.

Experimentando na Nona Arte

Andrea Sorrentino sempre otimizou muito sua arte, o que faz dela um fio condutor crucial para contar a história. Em Gideon Falls ele avança mais um degrau e em vários momentos o entendimento do universo está na arte e não numa explicação verbal dos personagens. Além disso, existem quebras da quarta parede em alguns momentos que também se dão pela arte e não pelo texto.

gideon falls

Apesar de Gideon Falls se tratar duma obra complexa, bem como Dark, seu entendimento não é difícil. O texto de Lemire não é expositivo, ele não pega o leitor pela mão e explica o que é cada coisinha, mas fundamenta e apresenta o contexto geral em que o universo está situado e à partir de estão é com o leitor estar atendo. Isso é uma ótima característica da obra, porque ela não trava para se auto explicar e depois voltar ao que interessa; ela segue ininterrupta. De certa forma, é uma coisa que foge do mainstream das HQs, principalmente de heróis, que possuem uma necessidade de entregar tudo mastigado.

Lemire mistura terror, multiverso, viagem no tempo, e uma entidade 'diabólica' ao estilo Lovecraft de maneira brilhante, e consegue de forma bem natural unificar os núcleos da história.

Realmente não é sempre que se encontra, em qualquer mídia que seja, uma história com elementos tão complexos e condessar tudo isso em entretenimento de altíssima qualidade.

Terro, Ação e Adrenalina

Sem dúvida a criação da atmosfera de suspense no início da obra é muito bem construída, e logo que os 'mocinhos' e antagonista já estão bem estabelecidos, tem-se sequências de ação eletrizantes. Em especial, no volume quatro (O Pentoculus), é estabelecido um "pseudoclímax" de tirar o fôlego.

Gideon Falls

A HQ cria uma ansiedade crescente e a adrenalina sobe. Cada vez mais aquela sensação de urgência vai tomando corpo e aos poucos Lemire vai dando a real dimensão do que aqueles personagens realmente estão enfrentando.

Outro ponto favorável é o encerramento da série. Ela é satisfatória, inteligente, e de certo modo volta a lembrar mais uma vez a série já citada da Netflix, mas conservando de maneira primordial suas peculiaridades e o que a faz ser única.

Considerações Finais

Gideon Falls é uma HQ de altíssima qualidade, que elenca vários elementos difíceis de se trabalhar e tem como resultado final uma trama brilhante, complexa e singular. Jeff Lemire e Andrea Sorrentino fazem um favor à cultura pop criando está todo este universo.

Gideon Falls

Escritor:Jeff Lemire

Arte:Andrea Sorrentino

Editora Original:Image Comics

Ano Original de Publicação:2018 - 2020

Editora no Brasil:Editora Mino

Ano de Publicação no Brasil:2018 - 2021

Edições:Gideon Falls 1-27

Número de Páginas:760

Nota do avaliador:

Excelente