Depois de Os Vingadores Ultimato, duas coisas fazem muita falta no universo Marvel, a presença do Homem de Ferro e os filmes do Capitão América. O segundo filme do personagem, com o Soldado Invernal, inaugurou um ambiente de espionagem e conspiração, coroada com a espiã Viúva Negra, que se esperava ver de maneira mais ampliada em Invasão Secreta, disponível no Disney Plus. E de fato, o primeiro episódio, cria essa ambientação. No entanto, aos poucos, a produção perde a mão e cai na familiaridade dos filmes de heróis.

Atenção: Contém spoilers

A série apresenta, até que de forma expositiva, mas funcional, um clima de “invasão” silenciosa do skrulls logo nos primeiros minutos. Mas na altura do quarto episódio, tudo é previsível e dali nenhuma surpresa sai. Não há uma revelação poderosa, um personagem que ninguém esperava que se revelasse um skrull, um plano inteligente do Nick Fury (Samuel L. Jackson) para sobrepujar o Gravik (Kingsley Ben-Adir). Nada. Na realidade, os dois últimos episódios, com pouco mais de 30 minutos, parecem que terminam sem terem começado. A sensação é que precisavam encerrar logo a série, chegar ao clímax e pronto. Agora podemos estrear The Marvels nos cinemas.    

As mortes que acontecem na série, que poderiam ser impactantes, ao final não passam de um desleixo. A Maria Hill (Cobie Smulders), que já havia servido bem para dar mais uma camada dramática ao Fury, é esquecida como se nunca fizesse parte daquele universo. Talos (Ben Mendelsohn) é subutilizado e toda a construção de personagem em volta do Gravik é perdida na necessidade de mostrar que ele era um vilão tirano que estava perdendo a cabeça. 

Apesar disso, desse degringolar em dois episódios, a julgar pelo todo, a série tem o mérito de fisgar a atenção nos episódios iniciais. É uma pena que o melhor episódio seja o primeiro. Assim como WandaVision, Invasão Secreta prepara um terreno que depois não consegue gerir. 

A ideia da Colheita, com os DNAs dos Vingadores, está ali sem sentido. As motivação de cada personagem estavam bem delimitadas e mais importante, eram coerentes com tudo o que havia sido apresentado. Colocar este plus, foi um gancho única e exclusivamente para adicionar uns socos de Hulk e rachadas de poder ao estilo Capitã Marvel no final. 

Na tempestade, outro náufrago. A condução da comitiva norte-americana na Rússia também é lastimável. Após o presidente dos EUA ser ferido no quarto episódio, o Fury leva ele em um hospital qualquer e um lugar qualquer, totalmente posto ao léu. Enfim, faltaram ideias para a casa das ideias, e um pouco mais de zelo na direção em delimitar os espaços e ser coerente com as peças no tabuleiro. 

Neste ínterim, porém, ainda há coisas boas. Não há cenas pós créditos, uma participação de herói gratuita, nada disso. Ele se contenta com seus personagens que, por sinal, são todos muito bem interpretados. Olivia Colman, como Sonia Falsworth, enfaticamente, é um show à parte e rouba todas as cenas em que aparece. Poderia ter muito mais tempo de tela. 

Os desdobramentos da série também são interessantes. Fury e G'iah (Emilia Clarke) derrotam Gravik, mas coloca outro problema no lugar, que é o ódio humano aos skrulls. Pode ser algo bacana de ser trabalhado? Pode. A Marvel vai saber trabalhar? É legal e importante que o estúdio traga temas sociais para um espaço de puro entretenimento, para falar de temas como xenofobia, algo que é tão caro e delicado hoje. Isso é um mérito. Mas ela ainda não soube colocar o dedo na ferida nem conseguiu falar com tanta sensibilidade como quando tratou de luto em WandaVision.  

Invasão Secreta tem um dos melhores inícios de série do MCU e sabor nostálgico por lembrar os filmes do Capitão América. Entretanto, infelizmente se perde ao desenvolver seu roteiro ao cair na mesmice de um produto qualquer de herói, somado aos desleixos de direção. Ainda assim, mesmo com reviravoltas fracas e resoluções que mais parecem rascunhos, a série tem o mérito de um elenco ótimo e consequências para o universo Marvel que, se bem trabalhadas, podem render boas histórias para o futuro. Cabe saber, no entanto, quando a Marvel vai parar de criar expectativas e de fato narrar uma história com um final nela mesmo.