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Análise | Dark - Terceira Temporada

A terceira temporada de Dark demonstra como é possível uma série transcender o mero entretenimento

Geraldo Campos15 de mar. de 2021Atualizado em 07 de jun. de 2021

Poderíamos logo de cara dispensar apresentações para Dark (2017-2020). A série alemã desenvolvida pela Netflix e dirigido e escrito respectivamente por Baran bo Odar e Jantje Friese, criou um universo sólido em duas temporadas, provocando fortes expectativas para sua terceira e (muito provavelmente) última temporada. Mas será que essas expectativas foram supridas?

Roteiro

Ao final da segunda temporada várias perguntas surgiram, e pontas ficaram soltas. As possibilidades criativas à partir dali eram inúmeras, e teorizar com exatidão o que estava por vir era quase que impossível. 

Uma Martha de um mundo paralelo foi apresentada pouco antes do “apocalipse”, e consigo uma nova Winden também. Não só isso, mas muitos outros conceitos do universo passam a serem inseridos, como realidades alternativas, explicado na série com a teoria do gato de Schrodinger

Sem sombra de dúvidas esses materiais científicos utilizados para justificar os acontecimentos de ‘Dark’ é o que mais surpreende, bem como a habilidade de se conseguir amarrar com precisão as pontas, até então soltas da série. Esses argumentos também levantam várias reflexões filosóficas sobre a existência, beirando o metafísico, assim como Tales From The Loop faz, porém com bem menos eficiência.

No desenrolar da trama, temos por fim o grande dilema, se é possível ou não quebrar o eterno ciclo temporal que ligam as quatro famílias (Kahnwald, Nielsen, Tiedemann e Doppler).

Técnicas e Desenvolvimento

‘Dark’ desenvolve seus personagens principais e secundários de maneira muito eficiente. Apesar de já estarmos na terceira temporada, os protagonistas (que são muitos, visto que eles se repetem em linhas temporais e idades diferentes) recebem mais elementos para serem explorados, elevando a carga dramática e valorizando suas individualidades circunstanciais de tempo e espaço ao qual estão inseridos.

Dark terceira temporada

É criada uma dualidade entre Jonas e Martha, aveludada num dialogo filosófico de bem e mal, bom e ruim, que vai tomando corpo sutilmente. No meio disso está Claudia, que analisa essa contradição entre ambos, que ao mesmo tempo é um acordo, ao qual ela destrincha até encontrar uma verdade que seja o equilíbrio. 

Os personagens secundários ficam com a missão de tampar os buracos das árvores genealógicas. Essa é uma parte do roteiro que poderia complicar o andar da série caso fosse mal executada, o que felizmente não acontece. 

As reviravoltas são bem contundentes e impactantes. Na verdade quase todos os episódios conseguem esse feito de impactar e provocar de maneira positiva. A tensão só aumenta a cada minuto, e o ciclo (ou nó, como é chamado na série) espelha uma inevitável repetição dos acontecimentos na cidade de Winden. Isso promove uma agonia, que somados a narrativa lenta de ‘Dark’, desperta e prende ainda mais a atenção.

Diferente das outras duas temporadas, na terceira a série se preocupa um pouco mais em explicar o que está acontecendo; nos episódios sete e oito principalmente. Isso não a torna menos complexa, pelo contrário, sua atenção deve estar redobrada, pois o número de elementos científicos e personagens mais que dobram. E não cometa o erro de começar a terceira parte sem ter assistido novamente pelo menos o último episódio da secunda temporada.

O começo e o fim

Chega a ser até assustador essa ideia de como tudo se conecta. Fazer com que tudo se conectasse entre as quatro famílias em um mundo já era algo arriscado, porém, fazer isso com dois mundos, com a premissa de viagem no tempo e realidades alternativas, é demais para nós meros mortais. E a série consegue fazer isso.

Dark

Não espere nada menos que um final muito bem elaborado. A maneira como o ciclo se quebra (ou não), que por sua vez é o momento que requer maior inteligencia criativa para resolução do roteiro, de forma alguma deixa a desejar. Pelo contrário, o final é um dos pontos auges.

‘Dark’ é recheada de frases de efeito, isso desde o começo. Pode parecer meio estranho essa característica se analisada friamente, mas todos falam sempre sérios e sem sorrisos, coisas do tipo: “o que sabemos é uma gota, e o que ignoramos um oceano” ou então “nós somos o erro da matrix”. Mas ao final faz um certo sentindo, visto que eles se conversam como se estivessem caminhando para o fim do mundo, o que no caso, não deixa de ser.

Considerações Finais

A Netflix tem nas mãos uma grandiosa série. Além de ‘Dark’ ser uma excelente fonte de entretenimento, ele transcende de maneira sutil, e para quem tem olhos atentos, pautas importantes sobre o Eu e a própria existência humana em meio aos avanços do conhecimento científico. Obras desse calibre merecem total atenção e destaque, não é todo dia que nos deparamos com uma série brilhante como esta.

Dark - Terceira Temporada

Ano:2017 - 2020

Empresa(s):Netflix

Gênero:Ficção Científica, Drama

Diretor:Baran bo Obar

Roteirista:Jantje Friese

País de Origem:Alemanha

Nota do avaliador:

Excelente